quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O professor deve ser o facilitador da aprendizagem



Lousa digital, quadrinhos, tabletes, celulares... nesses novos tempos em que tantas novidades e a tecnologia invadem a sala de aula, mudou o papel do professor? 


Para a psicóloga, mestre e doutora em Psicologia da Educação e professora aposentada da PUC/SP, Maria Celia Teixeira Azevedo de Abreu, o principal papel do professor continua sendo o de facilitar a aprendizagem de seus alunos. “O papel do professor não é ensinar, mas ajudar o aluno a aprender; não é transmitir informações, mas criar condições para que seus alunos consigam essas informações. O papel do professor é organizar estratégias para que o aluno conheça a cultura existente e crie cultura. A aprendizagem exige uma abertura permanente para as mudanças, tanto da parte do aluno como do professor”, ela afirma. Maria Celia é coautora do livro “O professor universitário em aula”, da MG Editores Associados, escrito em parceria com Marcos Tarciso Masetto, filósofo e doutor em Psicologia da Educação. Para a educadora, o que aprendemos só modificará nossos valores, nossos conceitos, nossa autoestima e até nosso comportamento se fizer sentido para nós. Atualmente Maria Celia é coordenadora do Ideac – Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico.


Como deve ser a prática do professor?

Dar aula envolve dominar o conteúdo da disciplina escolhida, ter uma visão de educação, de homem e de mundo e ter habilidades e conhecimentos para uma efetiva ação pedagógica em sala de aula. O que vemos é que nem sempre o professor que domina os conhecimentos domina a prática educacional e pedagógica. Essa lacuna pode prejudicar a situação educacional se o professor não se sentir preparado para superá-la e se não acompanhar o ritmo das mudanças da sociedade.

O que deve pesar mais: o ensino ou a aprendizagem?

Na sala de aula, o professor deve fazer uma opção pelo que está ensinando ao aluno ou pela aprendizagem que o aluno adquire. Se procurarmos pelo significado de ensinar encontramos verbos como instruir, fazer saber, comunicar conhecimentos ou habilidades e outros que destacam o professor como agente principal e responsável pelo ensino. Se a palavra é aprender, encontramos buscar informações, rever experiências, adquirir habilidades e outros termos que apontam o aluno como sujeito principal. Nossa opção, como professores, deve ser sempre pela aprendizagem, com a missão de criá-la e organizá-la da melhor maneira para nossos alunos.

Que áreas da aprendizagem o professor deve valorizar?

Há muitas variáveis na questão da aprendizagem. O professor deve se perguntar: o aluno precisa aprender isto para que? A partir daí, podemos citar quatro tendências principais que podem repercutir na sala de aula. A primeira é aquela que privilegia o aperfeiçoamento mental (aspecto cognitivo) com estratégias específicas para desenvolver o pensamento e o raciocínio dos alunos. A segunda tendência é a que privilegia o desenvolvimento pessoal como um todo (afetivo, cognitivo e social) e que dá importância para que o aluno desenvolva sociabilidade, valores, comunicabilidade, relação com o ambiente e a sociedade. Na terceira é destacado o desenvolvimento das relações sociais, a interação entre o mundo individual e o social. A quarta e última ressalta o desenvolvimento da capacidade de decidir e assumir responsabilidade social e política.


Quando a aprendizagem funciona?

Qualquer que seja a tendência que se privilegie na sala de aula, há alguns princípios que são comuns e que demonstram que para ser significativa para o aluno a aprendizagem precisa se relacionar com o universo de conhecimento, experiências e vivências do aluno; permitir ao aprendiz formular problemas e questões que de algum modo o interessem; permitir que ele entre em confronto experiencial com problemas práticos de natureza social, ética e profissional relevantes; estimular a participação no processo de aprendizagem; ajudar a transferir o que aprendeu na escola para a vida; promover modificações significativas e benéficas no comportamento e até mesmo na personalidade do aluno.


As aprendizagens mecânica e significativa entram em conflito?

Na verdade, não. Elas são tipos diferentes. Portanto, servem a propósitos diferentes. Para se aprender habilidades, a aprendizagem mecânica é essencial. Porém, se a habilidade aprendida for relacionada com o que o aluno já sabe, ela será aprendida em menos tentativas, melhor fixada e trazida de volta da memória para a prática em menos tempo. Agora, se o conteúdo a ser aprendido é mais complexo do que uma habilidade, envolvendo conceitos, princípios, solução de problemas, tomadas de decisão ou criatividade, a aprendizagem significativa – aquela que faz sentido para o aprendiz, que se ancora em conhecimentos prévios e se relaciona com experiências passadas – se faz necessária.


Que outros elementos são fundamentais para a aprendizagem?

Toda aprendizagem é pessoal, ninguém aprende pelo outro. Toda aprendizagem requer objetivos realistas para que tenham significado para os alunos nos seus momentos de vida. A situação ideal é dar retorno imediato às respostas de aprendizagem, para que alunos e também professores possam determinar se há coisas a serem corrigidas ou não. Por último, toda aprendizagem deve ser embasada em um bom relacionamento interpessoal entre os elementos que participam do processo: professor, aluno, colegas de turma devem viver um clima de confiança, diálogo, colaboração e participação.


Os planos de ensino continuam sendo necessários?

Sim, principalmente hoje em dia com todas as facilidades que a tecnologia permite. Redigir objetivos não deve ser uma tarefa mecânica ou apenas uma obrigação formal para o professor. Deve ser, sim, uma preparação especial realizada com criticidade e flexibilidade. O plano de ensino requer metas definidas com precisão ou resultados previamente determinados, indicando o que o aluno deverá ser capaz de fazer com o que aprender ali. Seja para alcançar conhecimento ou agregar valores, estabelecer objetivos orienta o professor para selecionar conteúdo, escolher as estratégias de ensino e elaborar o que e como avaliar. O plano direciona a ação do professor e facilita o alcance do maior objetivo da escola: a aprendizagem do aluno.


A leitura pode ser uma estratégia poderosa de ensino?

As habilidades desenvolvidas pela leitura e também pela escrita são fundamentais para o futuro desempenho profissional, quando o aluno deixar a escola e necessitar de atualização constante. Para se fazer uma leitura se precisa de um envolvimento mais ativo do que ao se ouvir, por exemplo, uma palestra sobre o mesmo tema, e isso favorece uma aprendizagem significativa. A leitura ajuda a organizar as próprias ideias, a conhecer pensamentos diferentes sobre a mesma matéria, a desenvolver a habilidade de se comunicar por escrito e outros benefícios. Não basta indicar a leitura, é preciso provocar o interesse do aluno, guiá-lo nessa tarefa e fornecer referências sobre o texto. Da mesma forma que são aprendidos, a habilidade de ler e o gosto pela leitura podem ser aperfeiçoados.


Hoje em dia, quando muitos alunos na área de tecnologia sabem mais do que o professor há uma grande valorização do aluno monitor. Qual a sua opinião?

Antes essa figura não era frequente em nossas escolas e a realidade mostra que o monitor aparecia mais para ajudar o professor do que o aluno. A função do monitor pode ser fundamental se ela for entendida como de um aluno com mais conhecimento que se dispõe a facilitar a aprendizagem significativa de seus colegas de turma. Assim, ele mesmo também estará mais interessado em participar das aulas e compartilhar informações sendo um eficiente colaborador para professor e colegas. Ele será capaz de captar melhor as dificuldades dos colegas e ajudá-los a expor seus problemas. Por outro lado, está se desenvolvendo à medida em que aprofunda seus estudos a respeito do conteúdo da matéria. Com critério, interesse pessoal e treinamento o aluno monitor pode ser um elemento valioso na turma ajudando no desenvolvimento pessoal de todos.

Texto: Ivani Cardoso

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