Lousa
digital, quadrinhos, tabletes, celulares... nesses novos tempos em que tantas
novidades e a tecnologia invadem a sala de aula, mudou o papel do professor?
Para a psicóloga, mestre e doutora em Psicologia da Educação e professora
aposentada da PUC/SP, Maria Celia Teixeira Azevedo de Abreu, o principal papel
do professor continua sendo o de facilitar a aprendizagem de seus alunos. “O
papel do professor não é ensinar, mas ajudar o aluno a aprender; não é
transmitir informações, mas criar condições para que seus alunos consigam essas
informações. O papel do professor é organizar estratégias para que o aluno
conheça a cultura existente e crie cultura. A aprendizagem exige uma abertura
permanente para as mudanças, tanto da parte do aluno como do professor”, ela
afirma. Maria Celia é coautora do livro “O professor universitário em aula”, da
MG Editores Associados, escrito em parceria com Marcos Tarciso Masetto,
filósofo e doutor em Psicologia da Educação. Para a educadora, o que aprendemos
só modificará nossos valores, nossos conceitos, nossa autoestima e até nosso
comportamento se fizer sentido para nós. Atualmente Maria Celia é coordenadora
do Ideac – Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e
Científico.
Como deve ser a prática do professor?
Como deve ser a prática do professor?
Dar
aula envolve dominar o conteúdo da disciplina escolhida, ter uma visão de
educação, de homem e de mundo e ter habilidades e conhecimentos para uma
efetiva ação pedagógica em sala de aula. O que vemos é que nem sempre o professor
que domina os conhecimentos domina a prática educacional e pedagógica. Essa
lacuna pode prejudicar a situação educacional se o professor não se sentir
preparado para superá-la e se não acompanhar o ritmo das mudanças da sociedade.
O que deve pesar mais: o ensino ou a aprendizagem?
O que deve pesar mais: o ensino ou a aprendizagem?
Na
sala de aula, o professor deve fazer uma opção pelo que está ensinando ao aluno
ou pela aprendizagem que o aluno adquire. Se procurarmos pelo significado de
ensinar encontramos verbos como instruir, fazer saber, comunicar conhecimentos
ou habilidades e outros que destacam o professor como agente principal e
responsável pelo ensino. Se a palavra é aprender, encontramos buscar
informações, rever experiências, adquirir habilidades e outros termos que
apontam o aluno como sujeito principal. Nossa opção, como professores, deve ser
sempre pela aprendizagem, com a missão de criá-la e organizá-la da melhor
maneira para nossos alunos.
Que áreas da aprendizagem o professor deve valorizar?
Que áreas da aprendizagem o professor deve valorizar?
Há
muitas variáveis na questão da aprendizagem. O professor deve se perguntar: o
aluno precisa aprender isto para que? A partir daí, podemos citar quatro
tendências principais que podem repercutir na sala de aula. A primeira é aquela
que privilegia o aperfeiçoamento mental (aspecto cognitivo) com estratégias
específicas para desenvolver o pensamento e o raciocínio dos alunos. A segunda
tendência é a que privilegia o desenvolvimento pessoal como um todo (afetivo,
cognitivo e social) e que dá importância para que o aluno desenvolva
sociabilidade, valores, comunicabilidade, relação com o ambiente e a sociedade.
Na terceira é destacado o desenvolvimento das relações sociais, a interação
entre o mundo individual e o social. A quarta e última ressalta o
desenvolvimento da capacidade de decidir e assumir responsabilidade social e
política.
Quando a aprendizagem funciona?
Qualquer
que seja a tendência que se privilegie na sala de aula, há alguns princípios
que são comuns e que demonstram que para ser significativa para o aluno a
aprendizagem precisa se relacionar com o universo de conhecimento, experiências
e vivências do aluno; permitir ao aprendiz formular problemas e questões que de
algum modo o interessem; permitir que ele entre em confronto experiencial com
problemas práticos de natureza social, ética e profissional relevantes;
estimular a participação no processo de aprendizagem; ajudar a transferir o que
aprendeu na escola para a vida; promover modificações significativas e
benéficas no comportamento e até mesmo na personalidade do aluno.
As aprendizagens mecânica e significativa entram em conflito?
Na
verdade, não. Elas são tipos diferentes. Portanto, servem a propósitos
diferentes. Para se aprender habilidades, a aprendizagem mecânica é essencial.
Porém, se a habilidade aprendida for relacionada com o que o aluno já sabe, ela
será aprendida em menos tentativas, melhor fixada e trazida de volta da memória
para a prática em menos tempo. Agora, se o conteúdo a ser aprendido é mais
complexo do que uma habilidade, envolvendo conceitos, princípios, solução de
problemas, tomadas de decisão ou criatividade, a aprendizagem significativa –
aquela que faz sentido para o aprendiz, que se ancora em conhecimentos prévios
e se relaciona com experiências passadas – se faz necessária.
Que outros elementos são fundamentais para a aprendizagem?
Toda
aprendizagem é pessoal, ninguém aprende pelo outro. Toda aprendizagem requer
objetivos realistas para que tenham significado para os alunos nos seus
momentos de vida. A situação ideal é dar retorno imediato às respostas de aprendizagem,
para que alunos e também professores possam determinar se há coisas a serem
corrigidas ou não. Por último, toda aprendizagem deve ser embasada em um bom
relacionamento interpessoal entre os elementos que participam do processo:
professor, aluno, colegas de turma devem viver um clima de confiança, diálogo,
colaboração e participação.
Os planos de ensino continuam sendo necessários?
Sim,
principalmente hoje em dia com todas as facilidades que a tecnologia permite.
Redigir objetivos não deve ser uma tarefa mecânica ou apenas uma obrigação
formal para o professor. Deve ser, sim, uma preparação especial realizada com
criticidade e flexibilidade. O plano de ensino requer metas definidas com
precisão ou resultados previamente determinados, indicando o que o aluno deverá
ser capaz de fazer com o que aprender ali. Seja para alcançar conhecimento ou
agregar valores, estabelecer objetivos orienta o professor para selecionar
conteúdo, escolher as estratégias de ensino e elaborar o que e como avaliar. O
plano direciona a ação do professor e facilita o alcance do maior objetivo da
escola: a aprendizagem do aluno.
A leitura pode ser uma estratégia poderosa de ensino?
As
habilidades desenvolvidas pela leitura e também pela escrita são fundamentais
para o futuro desempenho profissional, quando o aluno deixar a escola e
necessitar de atualização constante. Para se fazer uma leitura se precisa de um
envolvimento mais ativo do que ao se ouvir, por exemplo, uma palestra sobre o
mesmo tema, e isso favorece uma aprendizagem significativa. A leitura ajuda a
organizar as próprias ideias, a conhecer pensamentos diferentes sobre a mesma
matéria, a desenvolver a habilidade de se comunicar por escrito e outros
benefícios. Não basta indicar a leitura, é preciso provocar o interesse do
aluno, guiá-lo nessa tarefa e fornecer referências sobre o texto. Da mesma
forma que são aprendidos, a habilidade de ler e o gosto pela leitura podem ser
aperfeiçoados.
Hoje em dia, quando muitos alunos na área de tecnologia sabem mais do que o professor há uma grande valorização do aluno monitor. Qual a sua opinião?
Antes
essa figura não era frequente em nossas escolas e a realidade mostra que o
monitor aparecia mais para ajudar o professor do que o aluno. A função do
monitor pode ser fundamental se ela for entendida como de um aluno com mais
conhecimento que se dispõe a facilitar a aprendizagem significativa de seus
colegas de turma. Assim, ele mesmo também estará mais interessado em participar
das aulas e compartilhar informações sendo um eficiente colaborador para
professor e colegas. Ele será capaz de captar melhor as dificuldades dos
colegas e ajudá-los a expor seus problemas. Por outro lado, está se
desenvolvendo à medida em que aprofunda seus estudos a respeito do conteúdo da
matéria. Com critério, interesse pessoal e treinamento o aluno monitor pode ser
um elemento valioso na turma ajudando no desenvolvimento pessoal de todos.
Texto: Ivani Cardoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário