quinta-feira, 25 de junho de 2015

O professor deve ajudar os alunos a filtrarem dados na web



A dúvida é grande: os pais devem controlar o conteúdo dos acessos de crianças e adolescentes na Internet?

 Por incrível que pareça, uma pesquisa mostra que 49% dos pais fazem isso, mas o que chamou a atenção é que quando os filhos obedecem os pais, cerca de 56% tiveram alguma experiência ruim na Internet contra 91% daqueles que ignoraram as normas.


Quando divulga esses dados, a professora, terapeuta familiar e fonoaudióloga Quézia Bombonatto explica que só o controle não adianta: “Há programas que funcionam como ferramentas para auxiliar na segurança da criança. Esses aplicativos permitem filtrar conteúdos, limitar os sites acessados e definir horários de utilização do computador. No entanto, principal é o diálogo entre pais e filhos. Algumas atitudes, como deixar o computador em áreas de circulação da casa, também pode inibir o acesso às páginas de conteúdo proibido para menores. Os pais também devem sempre participar do envolvimento das crianças com a Internet. Para isto, é preciso conhecer e aprender a lidar com esta tecnologia, caso contrário as orientações não terão tanta força, pois ao sacarem que os pais não têm conhecimento do que estão falando, eles vão tentar driblar”. O professor também tem um papel fundamental nessa questão, ela complementa: “Ele deve saber articular o acesso à tecnologia, que os alunos trazem em sua bagagem de aquisições extraescolares, com suas competências acadêmicas, isto é, deve procurar fazer a intersecção da cultura cibernética em que os alunos estão imersos com o conhecimento que obteve em sua formação”. Quézia é bacharel em Matemática, terapeuta familiar, psicopedagoga, pós-graduada em Psicologia da Educação, autora e organizadora de livros na área da Psicopedagogia e foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia em várias gestões. Como professora em cursos de psicopedagogia e de atualização de professores da rede pública e privada, ela recomenda que a escola deve promover situações e vivências que vão além de seus muros e integrar as tecnologias ao conhecimento acadêmico de modo a despertar o interesse do aluno para o seu processo de aprendizagem e cidadania sem perder de vista o envolvimento emocional por ela proporcionado, a sensibilidade e os desejos dos alunos.

Quais são os maiores riscos da Internet para as crianças?
A Internet (assim como novos equipamentos da tecnologia da informação) tem transformado os comportamentos e as formas de se relacionar com a família, com os amigos, com os hábitos de consumo, com planejamento de eventos sociais e também a relação com o conhecimento e a aprendizagem. Na Internet, temos acesso a praticamente tudo: informação imediata, cultura, entretenimento diversificado, conteúdos destinados, em geral, ao público adulto, enfim, inúmeros segmentos. Por outro lado, surgem novos riscos para a geração da era digital. Um dos grandes riscos da Internet para as crianças é a possibilidade de visualizar conteúdo impróprio para a idade da criança, de se relacionar com desconhecidos por meio de redes sociais, queda do rendimento escolar, dificuldades de diálogo, falta de comunicação do afeto nas famílias, riscos e problemas à saúde durante uma fase de crescimento e desenvolvimento onde, ainda, o excesso de estimulação através de tantas imagens pode gerar problemas de memória e de concentração.


E para os adolescentes?
Os adolescentes têm mais liberdade de navegar pela internet, embora nem sempre com segurança, podem realizar pesquisas, explorar conteúdos, acessar sites de relacionamentos entre outras atividades que a Internet oferece. Além disso, na Internet pode haver inúmeras informações desnecessárias e até mesmo falsas, pode ser usada para publicar comentários, como calúnia ou inverdades sobre uma pessoa, denegrindo sua imagem, entre outros crimes virtuais. Muitas vezes, a curiosidade e a impulsividade que caracterizam os adolescentes, levam-nos a não perceberem os perigos da rede, em especial quanto aos novos padrões de relacionamentos pessoais e nas manifestações da sexualidade. Não raramente, os adolescentes iniciam relacionamentos virtuais com pessoas de todos os tipos e idades com identidade real desconhecida, incluindo sites que incitam a violência, rede de drogas e prostituição.


Há riscos à saúde?
Estes adolescentes estão aprendendo a conviver num mundo virtual que se transforma veloz e constantemente. Estes hábitos podem ocasionar também riscos à saúde decorrentes de exposição excessiva diante do computador como: fadiga ocular, ressecamento do olho, conjuntivite, cefaleia de origem visual, lesões de esforço repetitivo, transtornos posturais devido à má posição, causando dores musculares no pescoço, braço, coluna, transtornos do sono, irritabilidade, redução da capacidade intelectual e produtiva, dificuldade de atenção, concentração, transtornos do sedentarismo como obesidade entre outros. Temos que ressaltar também os perigos do cyberbullying, cujas consequências são extremamente danosas tanto à vítima quanto ao agressor.


Qual o papel dos professores nesta área?
O papel do professor consiste em saber articular o acesso à tecnologia, que os alunos trazem em sua bagagem de aquisições extraescolares, com suas competências acadêmicas, isto é, o professor deve procurar fazer a intersecção da cultura cibernética em que os alunos estão imersos com o conhecimento que o professor obteve em sua formação e saber os limites e as possibilidades do uso das tecnologias dentro da sala de aula e em relação ao uso da Internet. O professor deve conhecer quais conteúdos são úteis dentro da Internet para poder orientar seus alunos.


O professor precisa estar preparado para esse apoio?
Um dos grandes problemas do uso da Internet em contextos escolares é a falta de uma filtragem segura. Cabe ao professor, com seu conhecimento na área, fornecer essa “filtragem” ao aluno. Para tanto, o próprio professor precisa, além de estar inteirado sobre conteúdos escolares nos diferentes contextos, conhecer sites que forneçam bons entretenimentos e que estimulem a criatividade dos alunos. Desta forma, o professor preserva suas funções, articulando os diversos aprendizados que ocorrem dentro da escola com o conhecimento adquirido fora, que são os meios e as tecnologias com os quais os estudantes interagem, uma vez que a aprendizagem se realiza nos diversos cenários da vida cotidiana.


Como competir com as novas ferramentas digitais?
Para pensarmos como competir, precisamos antes saber que alguns dos elementos do potencial educativo que pertencem a essas novas tecnologias são: rapidez, recepção individual, interatividade e participação, realidade virtual. A rapidez com que são processadas as informações motiva os alunos a serem mais reticentes, a esperar pelos resultados de um processo, uma vez que a aprendizagem deve ser vista como um processo que promove transformações. O “game”, com sua dimensão lúdica, promove a busca de emoções e sentidos associados à lógica do jogo e garante o sucesso quando o jogador consegue passar de fase. Esta garantia do sucesso imediato motiva e reforça a ideia de não aguentar a espera de resultados a longo prazo, vivenciado em sua escolaridade. A recepção individual é alcançada porque as tecnologias oferecem uma série de informações e conhecimentos, mas com rapidez, dentro das possibilidades e do ritmo de cada um.


Qual é a maior desvantagem da escola nesse processo?
O sistema educacional, por ter um caráter coletivo, muitas vezes dificulta a ação do professor voltada para a subjetividade de cada aluno. Ainda em relação às possibilidades oferecidas pelos games, por exemplo, especialmente quando realizados em grupos, eles estimulam o indivíduo a querer participar, a discutir, compartilhar suas descobertas e conquistas com seus amigos. Muitas vezes, eles passam a ser personagens de histórias e de enredos criados, estimulando sua criatividade.


Qual a função da escola nessa nova realidade?
A escola já não é o centro depositário do conhecimento e do saber, mas o lugar de articulação de múltiplas aprendizagens e informações. A função da escola é orientar os alunos sobre a forma de como associar as linguagens das tecnologias e o conhecimento delas advindo com os meios e recursos, priorizando a possibilidade de construção das relações que devem ser vivenciadas para fins de aprendizado. Não devemos colocar na posição de isto ou aquilo, mas de incluir o potencial educativo das tecnologias como ferramentas facilitadoras do processo ensino-aprendizagem, partindo da premissa que os saberes adquiridos pelo aprendente não são provenientes apenas dos oferecidos pela escola, mas tendo a certeza que sem afetividade não há aprendizagem. Desta forma, acreditamos que a escola deve promover situações e vivências que vão além de seus muros e integrar as tecnologias ao conhecimento acadêmico de modo a despertar o interesse do aluno para o seu processo de aprendizagem e cidadania sem perder de vista o envolvimento emocional por ela proporcionado, a sensibilidade e os desejos dos alunos.


Como os pais podem controlar os conteúdos acessados pelos filhos?
Não há dúvidas que os pais devem impor regras e limites aos seus filhos sobre como deve ser o uso da Internet. Há uma pesquisa que mostra que 49% dos pais fazem isso, mas o que chamou atenção é que quando os filhos obedecem os pais, cerca de 56% tiveram alguma experiência ruim na Internet contra 91% daqueles que ignoraram as normas. Há programas que funcionam como ferramentas para auxiliar na segurança da criança. Esses aplicativos permitem filtrar conteúdos, limitar os sites acessados e definir horários de utilização do computador. No entanto, principal é o diálogo entre pais e filhos. Algumas atitudes como deixar o computador em áreas de circulação da casa também pode inibir o acesso às páginas de conteúdo proibido para menores. Os pais também devem sempre participar do envolvimento das crianças com a Internet. Para isto, é preciso conhecer e aprender a lidar com esta tecnologia, caso contrário as orientações não terão tanta força, pois ao sacarem que os pais não têm conhecimento do que estão falando, eles vão tentar driblar.


É importante na escola formar grupos para fazer pesquisas na Web?
As mudanças provocadas com o advento da tecnologia trazem à tona questionamentos em relação à postura do professor diante de suas propostas de trabalho e das estratégias didáticas para o desenvolvimento dos conteúdos programáticos propostos em seu planejamento. Como já falamos, o papel do professor é articular estas diferentes linguagens e para isto é necessário diversificar a forma de trabalho e as propostas pedagógicas. A proposta de formar grupos de alunos para que façam pesquisas na Web é alicerçada a partir da convicção de que as crianças devem estar preparadas para viver e atuar numa sociedade cada vez mais movida pela tecnologia, mas deve orientar os alunos e prepará-los em como utilizar as informações da Internet e transformá-las numa aprendizagem efetiva e não simplesmente fazer uma cópia. O papel do educador, retomando o que já foi dito, não consiste apenas em ensinar os conteúdos acadêmicos, mas também dar condições para que o aluno construa sua própria aprendizagem. O trabalho em grupo favorece o desenvolvimento sócio-afetivo, daí a importância da manutenção desta estratégia dentro do processo de sua formação desde que o aluno tenha a possibilidade de interagir com estímulos desafiadores.


Os estudantes devem usar os celulares durante as aulas?
Há um projeto de lei que proíbe o uso de celular em sala de aula, alegando que o uso do telefone celular pode desviar a atenção dos alunos, possibilitar fraudes durante as avaliações e provocar conflitos entre professores e alunos e alunos entre si, influenciando o rendimento escolar. Acredito que, apesar destes argumentos serem legítimos, a conscientização através de um processo reflexivo junto aos alunos é fundamental para o compromisso com a construção da autonomia. É claro que para este processo deve-se levar em conta a idade e a maturidade do aluno.


Como despertar a criança para o livro impresso com tantas atrações do mundo digital?
A leitura em computador não é fundamentalmente diferente da leitura no papel, embora exija a implementação de estratégias de navegação que não estão presentes na leitura de texto tradicional. Se o aluno não está motivado para a leitura ou se a escola “mata” o gosto pela leitura, pode ser devido à proposta de leituras distanciadas da realidade da criança e do adolescente, ou ainda porque não faz o esforço necessário para mostrar-lhe que a realidade, que não é ainda a dele, merece ser conhecida. A receita para despertar-lhes o interesse é mostrar-lhes que o material a respeito do qual se lhes propõe a leitura merece tal esforço. E para tanto, o educador deve estar profundamente entusiasmado pelo que quer ensinar ou simplesmente compartilhar.


Os professores deveriam receber orientação especial para lidar com o universo digital em sala de aula?
Sem dúvida, a formação continuada do professor é condição primordial no exercício consciente desta profissão. Especialmente em relação ao conhecimento do universo digital, muitos professores não tiveram esta aprendizagem em sua formação e, portanto, eles precisam se apropriar desse novo conhecimento para não cair em descrédito frente aos seus alunos ao ter que entrar em contato com estas novas tecnologias.


Há sites que devem ser indicados para que os professores consigam se informar mais sobre esses temas?
Com certeza, mas precisaria fazer uma pesquisa sobre o assunto. Como sugestão no site da Associação Brasileira de Psicopedagogia, www.abpp.com.br, há bons artigos a respeito, especialmente alguns artigos do link Revista Psicopedagogia.


Texto:Ivani Cardoso

Fonte: http://www.contec-brasil.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário