quarta-feira, 29 de abril de 2015

Os smartphones terão um papel importante no aprendizado


 No labirinto de tantas novidades na área educacional, há um descompasso entre tecnologias que avançam desconectadas das necessidades reais dos professores e de escolas. Antônio Sérgio Martins de Castro, gerente de Inteligência Educacional da Editora Saraiva, acha que quando se fala em educação é cada vez mais evidente que o investimento na formação dos professores é necessário e fundamental para que, com propostas realistas, aplicáveis, embasadas em estratégicas pedagógicas inovadoras e contemporâneas, se crie oportunidades relevantes para promover transformações concretas e que atendam às necessidades de uma educação para o futuro. O acesso às novas tecnologias é um dos pontos positivos levantados pelo profissional: “A conectividade está cada vez mais acessível a qualquer pessoa. Hoje, é difícil encontrar uma pessoa que não tenha um celular ou até um smartphone. As operadoras de telefonia, incentivadas pelo governo, cada vez mais colocam no mercado opções de conectividade com custo bem baixo tanto para aparelhos quanto para planos de acesso. E, por incrível que possa parecer, os smartphones certamente terão um papel importante no aprendizado dos jovens. Eles estão “juntos” vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana e, por que não, na sala de aula. Em várias escolas esse uso já é realidade. Ter equipamentos e softwares não garante que a aprendizagem dos alunos irá melhorar. É necessário que professores estejam aptos a fazer uso deles com assertividade”.

Como você encara o uso das tecnologias na Educação?
Aliado a práticas e estratégias pedagógicas bem escolhidas e planejadas, o uso das tecnologias permite agilizar e potencializar as ações contribuindo significativamente para o processo de ensino e aprendizagem. Educar atualmente é ouvir e buscar alternativas para promover transformações na maneira de pensar e agir coletivamente.

Tem números sobre as escolas que têm acesso a computador e outros equipamentos do mundo digital? Entre o ideal e a realidade a diferença é muito grande?
De acordo com o Programa Banda Larga na Escola (PBLE), lançado em 2008, a Anatel e o Ministério da Educação pretendem, até 2025, ter todas as escolas urbanas com acesso a Internet de alta velocidade. Mas isso não basta. Ter equipamentos e softwares não garante que a aprendizagem dos alunos irá melhorar. É necessário que professores estejam aptos a fazer uso deles com assertividade. O ideal é que todas as escolas urbanas e rurais estejam conectadas. Se olharmos para os dados dos últimos quatro anos, o acesso da população à Banda Larga cresceu 579% segundo a Anatel.

Quais os desafios do uso da tecnologia no ensino brasileiro?
A formação de professores, com certeza, é o maior desafio em relação ao uso de tecnologias nas salas de aula. Mas é necessário uma formação que vá além da explicação de como fazer uso de dispositivos e softwares. Falo de uma formação que permita ao professor analisar e avaliar a disponibilidade de recursos, bem como estruturar suas ações de maneira planejada e com objetivos pedagógicos bem definidos.

Como avalia o descompasso entre as tecnologias desconectadas das necessidades reais dos professores e de escolas?
Modelos externos do uso de tecnologias podem ser uma referência para estudo e análise. Porém, nem sempre o uso de algo já construído, baseado em modelos de outros, é garantia de sucesso. É preciso olhar para nossas realidades diversas e encontrar modelos sustentáveis que nos permitam agregar valor às nossas práticas, essas que em hipótese alguma devem ser ignoradas. Nesse contexto a formação do professor deve conter elementos que o permitam extrapolar o que já fez e pensar, “fora da caixa”, nas possibilidades que apresentem maior atratividade e inovação.

Como motivar os alunos para o conteúdo tradicional ainda necessário na sala de aula?
Existem inúmeras maneiras de se trabalhar os conteúdos tradicionais com ou sem o uso de tecnologias. Não é a facilidade ou rapidez na obtenção de informações que fará com que o aluno aprenda mais. É necessário levar o aluno a pensar sobre os temas abordados, provocar questionamentos e principalmente ouvir. Atualmente pouco se ouve o aluno, principalmente no Ensino Médio onde a carga de conteúdos é gigantesca, praticamente imposta pelos atuais sistemas de seleção para o ingresso às Universidades.

A tecnologia está sendo usada como deveria?
Creio que não. Quando bem utilizada, ela proporciona canais de comunicação mais eficientes, rápidos e atrativos aos alunos, alavanca o diálogo, a troca de informações e também abre espaço para novas possibilidades. Não me adianta ter as informações de maneira mais rápida. É necessário que elas tenham consistência, sejam coerentes, estejam adequadas ao contexto e que também tenham passado por filtros que eliminem possíveis incorreções. É nesse momento que a formação acadêmica do professor entra em cena para direcionar as discussões e debates de maneira a não ficar na superficialidade que por si só as informações apresentem.

O que o sr. considera educação para o futuro?
Aquela que permita ao cidadão se colocar de maneira segura diante de necessidades individuais e coletivas e também promover transformações no modo de pensar e agir em busca de uma formação integral.

Em relação a outros países, o Brasil está muito atrasado na área educacional quanto à aplicação das novas tecnologias?
Em termos de iniciativa, o Brasil ainda precisa pensar em modelos próprios, mais adequados à nossa realidade. No continente americano, países como Canadá e Estados Unidos já apresentam resultados significativos no uso de tecnologias na educação. A proximidade de Universidades como a de Toronto e Laval no Canadá e Harvard nos Estados Unidos, com escolas de aplicação, permitem a implementação e o estudo de práticas pedagógicas com uso de tecnologias de maneira efetiva.

Em tempos de Internet e redes sociais, a leitura impressa ainda faz falta para os alunos?
Eu não diria a leitura impressa, mas sim, a leitura faz muita falta aos alunos. Ler em dispositivos digitais ou em material impresso é uma escolha. Alguns dizem que gostam de sentir o cheiro do livro em papel, de manusear o volume, mas, ao mesmo tempo, digitam com alguns dedos e leem mensagens com uma rapidez fora do comum. Em minha opinião o mais importante, seja no digital ou no impresso, é que a leitura ocorra.

A gamificação deve ser usada na sala de aula? 
De acordo com o relatório Horizon Report de 2012, versão brasileira, o uso de “games” ocorreria num horizonte de 1 a 2 anos enquanto que no relatório internacional isso ocorreria de 3 a 5 anos. A possibilidade do uso de games precisa ser avaliada com maior profundidade. Ações equivocadas podem e já provocaram ações que não passam do simples jogar e acabam em frustração. Não adianta fazer com que alunos respondam perguntas somente para avançar de uma fase para outra num game. O ato de pensar e analisar as ações e atitudes a serem tomadas dentro de um contexto educacional vai muito além do “passar de fase”. Creio que ainda precisamos avaliar melhor as concepções sobre o assunto para que possamos realizar uma implementação verdadeira da “gamificação” em nossas salas de aula.
 
Texto de Ivani Cardoso

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